Abaixo os textos da Regina e do Agenor e algumas imagens originais do Jornal do III Encontro.

Para meus queridos colegas do BB.
Recordar é viver...ou morrer de rir...
Você é do tempo da Revista do Desed?
Fez a prova de datilografia para entrar no Banco?
Ouviu a mãe dizer: “Meu filho, pense no seu futuro, faça o curso de datilografia”?
No concurso, a folha de resposta era de perfurar? Leu as histórias não-escritas no BIP? Eram ótimas, não eram? O quê?! Você não sabe o que foi o BIP? Foi o Boletim de Informação ao Pessoal. Ou será que você é do tempo do Bipel e do BB Net? Você ouviu ou falou em terminal burro?Enviou ordem de pagamento via telefone com aqueles codificadores: A de Aracaju, B de Bahia, C de cachorro...? Pensou que estava vendo assombração quando as teclas do telex se mexiam sozinhas? Dizem que um vigilante, ao ver pela primeira vez aquele batimento de teclas, ficou assustado, sacou o revólver e abriu fogo contra o aparelho de telex. Leu mensagens que começavam com Reseu? Na linguagem telegráfica, significava “em resposta ao seu (telegrama)”. Lembra daquele aparelho telefônico de discagem circular? Por causa dele surgiram o verbo “discar”, o substantivo “discagem” e as siglas DDD e DDI. Você alguma vez disse "o depósito caiu na vala”? Lembra do papagaio? Ele não dava o pé, mas, às vezes, dava muita dor de cabeça. Lembra do DEB744 na área dos caixas? Era nele que ficava o saldo de todos os clientes. E nele eram registrados débitos e créditos: para os depósitos, caneta azul; para os cheques, caneta vermelha. Lembra das máquinas autenticadoras?
E das maquininhas calculadoras? Elas tinham um singelo apelido: Sharpinha. E a máquina de escrever, hein! A Olivetti elétrica era o máximo, uma maravilha tecnológica. Por acaso, você conheceu a guilhotina? Ah, vai dizer que não usou o mimeógrafo! Lembra do claviculário? Quando ouviu essa palavra pela primeira vez pensou que era algo relacionado a clavícula?
Você confeccionou talão de cheque para clientes? Lembra do jerimum? E do slip? E o goiabão? Pediram pra você pegar o alicate de puxar saldo? Lembra da igrejinha? Tomou posse fazendo juramento à CIC Funci? Não sabe o que foi a CIC? É o LIC de hoje – a mudança ocorreu entre 1996 e 1998, mas tem-se a impressão de que foi há muito tempo. Você sabe o que é espelho? Sabe o que significava precário? Conheceu algum ex-menor que ficou congelado? Viu um tal Novo Rosto? Lembra de siglas como Cesec, Retag, Plata, Cefor, Setin, Creai , Setex e Setop? O oitavado, lembra? E a burrinha? Você concorreu pela mula-mecânica? Lembra do macho-e-fêmea? Foi chamado de marajá? Quando tomou posse, caiu em trote? Procurou a máquina de achar diferença? Lavou papel-carbono? Fez assinatura do BIP? Mandaram você procurar um tal “envelope redondo para colocar uma circular”? Procurou a manivela da xérox? E a máquina de escrever em inglês? E a régua de calcular juros? Assinou um papel em branco que virou saque e serviu para pagar as despesas da festa de chegada? Foi escalado para “levar o lucro para Brasília”? O novato era convencido a viajar de ônibus para Brasília, com uma mala velha cheia de papel – e teve gente que viajou... Na qualificação para a posse você fez exame de fezes? Sim, ele era um dos exames médicos exigidos – estava lá na CIC Funci 2.2.2.”c”.
Para encerrar, uma última perguntinha: você fez ou ouviu algum alívio na agência? Calma, calma, não se assuste! Foi só uma viagem ao túnel do tempo.
Afinal, recordar é viver – ou morrer de rir.
REGINA RAVEDUTTI

Clique nas imagens para visualização individual
Na América Dourada, município da Micro-Região de Irecê, acontecia a festa do
padroeiro S. Sebastião. Parecia ter gente de todo o município de Irecê e até do
vizinho Morro do Chapéu. Toda aquela grande praça da América Dourada,
em terra batida, com as casas formando um grande círculo em torno da igreja
e os redemoinhos levantando a poeira vermelha, tinha bem a característica
comum ao surgimento de todos os povoados e cidades.
Era o mês de janeiro de 1966, um dia de semana, quando em dado momento chega ao povoado um Jeep-Willis, modelo 1951, com o motorista conduzindo alguém não conhecido das pessoas da área. O veículo para ao lado de um cidadão conhecido por Diva e outros visitantes que conversavam; desce um indivíduo todo paramentado de chapéu e bota cano longo – certamente proteção contra cobra – e pede informação sobre uma pensão onde pudesse se hospedar. Prontamente o Sr. Diva se apressou em dizer:
- Aqui só tem a pensão de D. Afrinha Dourado – e apontou na direção de um casarão branco, com uma porta no centro e muitas janelas em estilo bem colonial. O desconhecido agradeceu e se dirigiu a casa sob olhares curiosos e surpresos de todos. A sala estava cheia de pessoas que conversavam animadas, tudo era festa. Esse era um dia muito especial na vida da comunidade, quando todos, desde as pessoas mais simples e humildes vestiam a melhor peça do seu vestuário, a mais alegre e colorida; as mulheres com seus vestidos de modelo recatado e abaixo dos joelhos; os homens, quando não de ternos antigos e bem passados, usavam as camisas de mangas compridas e abotoadas nos punhos, geralmente no modelo “volta ao mundo” muito em moda na época. Por ser o dia do padroeiro, é também o dia em que se aguarda a visita do Padre Juca, vigário das paróquias de Irecê e Morro do Chapéu. Nessa ocasião eram realizados os batismos de dezenas de crianças e o momento sagrado de consolidação das amizades dos padrinhos, que passavam a se tratar de forma respeitosa e venerada como compadres.
Naturalmente que por ser um dia festivo todas as casas estavam cheias de visitantes, principalmente de parentes vindos da zona rural. Mas a casa de D. Afra tinha uma particularidade. Ela era a tabeliã encarregada do tabelionato do distrito, respondendo pelos registros civis, escrituras, procurações, etc., o que a transformava numa pessoa muito querida e respeitada por todos.
O tal visitante almofadinha desceu do carro, procurou por D. Afra e sem mais delongas, após cumprimentá-la, disse, com toda pompa na voz:
- Sou fiscal do Banco do Brasil e gostaria de reservar um quarto para dois, pois devo passar mais ou menos uma semana trabalhando na região.
D. Afra, muito solícita, respondeu:
- Tudo bem. “ A casa está cheia, mas quando o senhor voltar, à noite, o quarto estará livre”.
Garantida a reserva o estranho saiu para o trabalho no campo e por volta das 19:00 retornou, ele e o motorista, plenos de poeira. Ficou surpreso, pois a casa estava vazia e somente encontrou a D. Afra, outra pessoa idosa que parecia ser a sua irmã e mais uma senhora que trabalhava na cozinha. Como era um período de muito frio e não havia chuveiro elétrico, perguntou:
- Não dá para ajeitar uma água morna para um banho de cuia?
Atenciosamente ela providenciou a água quente. No jantar uma bela galinha caipira ao molho pardo. No café da manhã, além do aipim, da batata e do cuscuz, ainda pediram ovos fritos bem passados, no que se empanturraram. E assim os dois “hóspedes” passaram uma semana entre visita às fazendas da área e os regalos de uma boa pensão, só não estranhando o fato de serem os únicos hóspedes porque D. Afra disse “que era assim mesmo, o povoado era meio parado”.
No penúltimo dia da jornada de trabalho na região, já véspera do seu retorno à sede de Irecê, após o jantar, o fiscal se dirige a D. Afra. Agradece por ter encontrado uma boa acolhida e pede “a conta para pagar”, pois sairia cedo na manhã seguinte e não voltaria a noite. Encolhida e titubeante, como quem não queria falar, D. Afra diz:
- Não, amanhã a gente ver isso!
O fiscal, embora sem entender a razão da sua indecisão em cobrar, insistiu em logo saber qual a despesa, quando d. Afra, meio gaguejante, disse:
- É que há mais de cinco anos eu acabei a pensão!....
Parecia que o mundo desabara sobre a cabeça dos hóspedes. O fiscal, entre surpreso, atônito e encabulado, desabafou:
- Não é possível que fiquei aqui durante uma semana e agora a senhora diz que não é mais pensão, há cinco anos!....
E ela, entre orgulhosa e decidida, insistia em não receber nada, dizendo que “tinha o costume e o prazer de hospedar fiscais do Banco do Brasil, desde a época que a região era visitada pelo Dr. Walter, fiscal do Banco do Brasil de Jacobina”. O fiscal quis partir naquela mesma noite, envergonhado que estava, mas a simpática e hospitaleira D. Afra, “Afrinha” para os íntimos, apelou que não o fizesse, convencendo-o a ficar. São micos e lembranças que não se apagam nos arquivos do tempo!
Personagens dessa pitoresca história: Motorista – Francisco Silva Pereira, o Tico ; Fiscal do Banco: Agenor Santos, este escriba (naquele tempo com apenas um ano de serviço no BB; hoje, decorridos 47 anos!).
Agenor Santos






